Talvez a paisagem de mim, aquela que mora aqui dentro, não seja propriamente uma paisagem. Mas, algo com cores vivas, vibrantes. E variadas formas. Geométricas tradicionais e outras quase inventadas. Excêntricas.
Excêntrica... essa palavra que tem me acompanhado. Que mesmo eu tentando fugir, desse algo excêntrico que eu mal sabia o que era, continuo trilhando essa rota da excentricidade. E, olhando de fora, logo eu, que sou bem comunzinha. Bem basiquinha, bem padrãozinha.
Mas eu fui aquela criança esquisita. Aquela que todo mundo conseguia enganar. Aquela que vira e mexe alguém perguntava ‘que isso, menina? Que que c tá fazendo?’. Enquanto eu estava só viajando na própria maionese e fazendo caretas sozinha.
Fui aquela que escolheu uma profissão que ninguém (re)conhece. Uma faculdade que ninguém sabia que existia. Que, na época, nem era reconhecida como um curso superior.
Nesse curso, onde achei que encontraria iguais, ouvi de uma professora uma palavra que nunca esqueci. ‘Mas você é mesmo uma incógnita, hein’. Incógnita… Até hoje não sei se é ofensa ou elogio. E eu continuava a ser uma excêntrica mesmo entre os excêntricos.
Agora fiz as pazes com a excentricidade. Sou palhaça de profissão, ora bolas. Se tem alguém que é fora do centro é a palhaça. E ouvi recentemente de uma grande mestra em palhaçaria ‘você é uma palhaça excêntrica! E isso é raro!’. Ainda não sei se entendi bem enquanto conceito, mas fato é que encaixou. Deu liga. Consegui me perceber esquisita, excêntrica nos meus espetáculos e cenas como palhaça (e na vida também).
Agora sigo experimentando como é ter encontrado esse lugar. E as possibilidades pelas quais ele me leva. E a verdade é que ele esteve aqui o tempo todo. O que eu fiz foi botar reparo. E também fazer as pazes com isso…
Já era tempo!
*Texto escrito em Junho/24 (Óia eu sendo honesta comigo mesma) durante a oficina Escrita e Cura da maravilhosa
.Não me lembro exatamente do exercício, mas a provocação era tentar enxergar em si uma paisagem e escrever sobre ela. Taí… Foi essa oficina que me encorajou a colocar minhas palavras no mundo! E por isso eu as publico aqui. Foi muito importante e especial pra mim ter passado por esse processo, sou grata à Layse, de quem sou fã e admiradora…